Kazak - O gambá que nos deixou uma lição de vida




Meu nome é Kazak, sou um pequeno gambá recém chegado ao mundo. Algumas semanas atrás me mudei junto de minha família para um forro, lugar escuro tanto de dia quanto a noite, ótimo para dormir, se esconder do sol e de predadores, minha mãe decidiu que iremos passar um tempo nesse lugar.

Tenho mais seis irmãos, meu pai faleceu, não tenha certeza como, mas desconfio que tenha sido assassinado, durmo o dia inteiro e saio com minha família a noite para buscar comida, é um trabalho chato, porém ninguém sobrevive sem colocar a mão na massa. Gosto de andar pelas vigas do telhado, sempre observo uns seres estranhos olhando para mim, gigantes e feios, resmungam coisas que não entendo, mas sinto que não são predadores, diferente daquele animal peludo que fica me encarando o tempo todo, grita, berra, corre de um lado para o outro, esse, eu tenho que tomar cuidado.

Minha vida mudou quando um dia sai para passear e escorreguei da viga, cai no chão, senti aquele monstro peludo louco atrás de mim, sem pensar muito entrei na casa do pássaro que fala o dia inteiro, por algum motivo a noite ele entrava na casa maior com os gigantes, me escondi no teto, o monstro não parava de gritar, queria me matar de qualquer maneira, felizmente não alcançava e nem cabia na porta de entrada. Estava desistindo quando um gigante veio em minha direção, preparei minhas garras, se for para morrer, morrerei lutando. O gigante apenas me observou e fechou a porta da casa, chamou outro gigante, era uma fêmea, apesar de menor e mais velha, parecia mais feroz, resmungaram em sua língua e voltaram para sua casa, terei que passar a noite na casa do pássaro falante.

No primeiro dia não consegui dormir, estava nervoso, procurei mas não encontrei nenhuma saída, o monstro peludo continuava me observando, estou com fome, sono, acho que vou morrer. Continuei no teto mantendo distância, essa é a melhor forma de não ser devorado. Logo quando clareou os gigantes apareceram novamente, tinham dois potes em suas mãos, abriram a porta da minha nova casa, colocaram os dois potes, um cheio de água e o outro com algo que penso ser comida, o cheiro é bom, mas não vou comer, pode estar envenenado, continuarei no teto me protegendo, essa noite tentarei fugir de novo, tem que haver alguma saída desse lugar e eu irei encontrá-la.

Mais uma noite se passou, não consegui fugir, a fome e a sede aumentaram, o monstro continua me observando, terei que arriscar comer e beber dos potes colocados pelos gigantes, não tenho escolha. Estou no segundo dia, comi e bebi até ficar cheio, não morri mas não posso ficar arriscando, tenho que fugir daqui e será esta noite. Os gigantes apareceram novamente, dessa vez tinha um terceiro, outra fêmea, veio em minha direção, ficou me observando, sorrindo, tinha cara de louca, sem dúvidas dos três gigantes era a que mais me colocou medo, se não fugir hoje amanhã ela me come.

Mais uma fuga frustada, estou no terceiro dia longe da minha família, amanheceu novamente, a gigante com cara de louca foi a primeira a aparecer, me trouxe bananas e acerolas, pode ser uma armadilha mas terei que arriscar a comer, a fome está grande de novo e a gigante não me parece mais tão ruim assim, até fez um pequeno abrigo para que eu possa me esconder do sol durante o dia, terei de confiar nela, mas não por muito tempo, porque hoje, sem dúvidas, eu escapo.

Quarto dia, acordei com comida dentro da minha casa, comi, tomei água e voltei a dormir, o sol está muito forte, a noite tentarei outra fuga. Anoiteceu, o monstro já não grita tanto comigo, a comida está em seu devido lugar, acho que ficarei mais um dia aqui. Mais uma manhã, esse é o quinto dia nesse lugar maldito, notei que a porta estava aberta, o gigante deve ter esquecido, irei fugir, mas antes vou comer umas bananas para manter a energia alta, apesar de que se ele esqueceu a porta aberta agora, sem dúvidas,  esquecerá de novo, também estou com um pouco de preguiça, deixarei a fuga para amanhã.

No sexto dia o gigante macho trouxe um de meus irmãos para a casa do pássaro falante, quando o colocou na gaiola ele já se escondeu no teto, que cara tonto, nem olhou para a água e a comida, bem, não me importo, vou comer e dormir mais um pouco, me preocupar com os outros cansa.

Se foram quatorze dias desde que cai da viga, meu irmão ainda mora comigo, ficou alguns dias procurando uma saída mas com o tempo desistiu, melhor assim. Hoje um dos gigantes me tirou da casa junto do meu irmão, nos colocou em uma casa nova, notei que estávamos nos locomovendo, quando paramos ele abriu a portinha, eu sai correndo, enfim tinha escapado, estava livre junto do meu irmão. 

Passaram-se dois dias, eu estava cansado, tinha que subir em árvores para me alimentar, não haviam gigantes e seus lindos potes, resolvi procurar por mais lugares assim, não ligo de ficar preso, desde que não precise fazer nada e me tragam comida. Encontramos uma casa de gigantes, olhei para meu irmão, corremos com alegria, não precisaríamos mais trabalhar para comer. Entramos em direção a porta da frente, por estarmos em euforia não notamos que mais alguém corria junto de nós, era da raça do monstro que quase me matou da primeira vez, ele já estava com meu irmão em sua boca, tentei correr para me salvar, infelizmente dessa vez, não consegui...

"Kazak morreu no momento que abriu mão da sua liberdade para depender dos outros..." 


Souzuke




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